SABIA QUE...?

Outubro 08 2004
Dos artigos sobre o caso Marcelo este foi o nosso preferido.



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A princípio, parecia apenas tratar-se de um caso de demência antidemocrática de um «apparatchik» promovido a ministro nesta deriva santanista. Mas a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI veio demonstrar que há empresários, como Paes do Amaral, que não resistem às pressões do poder político (por mais troglodita e transitório que este seja) quando os seus negócios, dependentes de múltiplas decisões do poder e do Governo, são colocados sob ameaça.


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Passou-se… Foi a reacção imediata quando se ouviu a diatribe do ministro contra as crónicas televisivas de Marcelo Rebelo de Sousa. Passou-se, entrou em apoplexia e fundiram-se-lhe os fusíveis… Um ministro de terceira linha, do qual ainda não se dera pela sua existência, aparece pela primeira vez aos portugueses a mostrar uma total incapacidade de conviver com a crítica, a sugerir controlo e censura da liberdade de expressão?! Passou-se…


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Ainda por cima, o ministro Gomes da Silva fez a sua desastrosa aparição pública logo na sequência de uma crónica em que Marcelo referia nominalmente a sua inabilidade política. Parecia uma resposta pessoal, ressentida e pouco inteligente. Na qual, insolitamente, propunha a intervenção da Alta Autoridade para a Comunicação Social por forma a que se exercesse «o direito ao contraditório». Porque é que os Governos de António Guterres e de Durão Barroso, tantas vezes criticados por Marcelo, não se terão lembrado disso?


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Porque é que Gomes da Silva não se lembrou de pedir o «direito ao contraditório» e a presença de representantes do PCP, do CDS e do Bloco de Esquerda quando Santana Lopes e José Sócrates peroravam a dois na RTP? Quer o quê o descontrolado ministro? Calar Marcelo e todos aqueles que se atreverem a exercer a liberdade de opinião? Não parece tarefa fácil, apesar de Paes do Amaral já ter conseguido calar temporariamente Marcelo. Ou quer, a par do programa do ex-líder do PSD, que a TVI abra espaços de opinião «ao contraditório», com ex-líderes dos outros partidos - Ferro Rodrigues, Carlos Carvalhas, Manuel Monteiro e, já agora, Fernando Rosas? A «central de informação» do PSD entrou em desvario totalitário e o ministro Gomes da Silva não diz coisa com coisa. Ainda tentou recuar, face ao impacto da sua catilinária intolerante para com Marcelo, alegando que não defendia silenciamentos nem censuras, mas já tinha posto o jogo todo a descoberto.


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Como se não bastasse, no seu afã controleiro, Gomes da Silva veio também sugerir uma alteração à lei das sondagens. Com um alvo identificado: a empresa Eurosondagem de Rui Oliveira e Costa, dirigente do PS. O ministro quer proibir por lei dirigentes partidários de terem empresas de sondagens. Esquece-se, certamente por boa fé, dos casos de Paulo Portas e Santana Lopes que dirigiram a empresa de sondagens Amostra, ligada à Universidade Moderna. E esquece-se que a Eurosondagem é uma das empresas mais prestigiadas no sector, avaliada constantemente pela fiabilidade dos seus resultados e pela competência profissional que tem demonstrado. É o mercado e não o partido ou os partidos momentaneamente no poder quem decide quais são as empresas com qualidade e cujo trabalho merece crédito e confiança. Por muito que os resultados e a própria realidade não agradem e não estejam de acordo com os interesses do poder político em exercício.


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Em suma, se não tivessem cobertura superior, do primeiro-ministro Santana Lopes, as diatribes e argumentos do ministro Gomes da Silva - por serem tão manifestamente primárias, antidemocráticas e asnáticas - apenas suscitariam um comentário clínico: interne-se rapidamente.


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Mas a verdade é que, além do beneplácito e da orientação de Santana Lopes, esta expressão de intolerância vem na sequência de outros episódios do mesmo teor e calibre de outras instâncias do PSD e do Governo, de Marco António à distrital de Lisboa. A começar pela originalidade de se ver um ministro e um Governo a responderem a opiniões de comentadores. E configuram uma intolerável propensão censória e antidemocrática de um partido, o PSD, que se construiu e afirmou na defesa da liberdade de expressão, na prática do debate livre e plural, no respeito e na afirmação do direito à crítica. Estes valores estão agora a saque no PSD? E à mercê de um grupo impreparado de arrivistas que ascenderam ao poder e parecem nostálgicos do 24 de Abril e dos métodos totalitários de controlo das opiniões e de censura da informação?


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Veremos o que as principais figuras da história do PSD têm a dizer. Ou se preferem o silêncio cúmplice.



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P.S. - A atitude do patrão da TVI, Paes do Amaral, não se estranha. É a de um empresário cujos valores culturais e cívicos se subordinam ao valor dos negócios e dos lucros. A liberdade de expressão, o direito a uma informação plural e crítica são conceitos que não entram no processo de decisão dos seus negócios. E muito menos a ousadia de resistir às pressões do poder político em funções, seja ele do PSD ou do PS, de esquerda ou de direita. Paes do Amaral não é um empresário da comunicação social mas um empresário de passagem pela comunicação social, até vender tudo e montar outro negócio. Como na feira.




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7 Outubro 2004



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(EXPRESSO - A OPINIÃO DE - JOSÉ ANTÓNIO LIMA)

publicado por Lumife às 13:12

Gostei do seu blog. Continue e sempre com a mesma garra ! Sem qualquer receio. Dos fracos não reza a história. Quando pude consulte "calmaria.blogs.sapo.pt".
Bem haja !herbon cavaco
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(mailto:herboncavaco@sapo.pt)
Anónimo a 8 de Outubro de 2004 às 19:16

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