
Um dado preocupante nesta campanha é o facto de Alberto João Jardim começar a aparecer como o mais entusiasta apoiante de Santana Lopes. É caso para dizer que uma coisa assim nem talvez Santana Lopes merecesse.
O líder madeirense, que revela a cada dia que passa a razão dos que o acusam de ser o responsável pela existência de um défice democrático na sua região, chegou a sugerir a expulsão de Cavaco Silva do PSD, referindo-se ao ex-primeiro-ministro como o «senhor Silva», depois de ter piamente acreditado que Cavaco apoiava uma maioria absoluta de Sócrates. Após o desmentido, Jardim achou que, mesmo assim, não deve desculpas ao ex-líder, uma vez que este não se tem mostrado suficientemente empenhado na campanha do PSD. Eis uma bizarra forma de pensar, que aliás faz recordar o melhor estalinismo
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Mas apesar de Jardim ser uma figura mais do que controversa, que recorre facilmente à truculência e ao insulto, Santana achou por bem convidá-lo para abrilhantar o primeiro comício da sua campanha. Está bem de ver que, ou não tem mais ninguém, ou gosta do estilo ou acha - como alguma gente diz - que Jardim foi um ás a desenvolver a Madeira. Só que, e é bom que se recorde, Portugal não tem nenhum Continente disposto a gastar aqui o que o Continente gastou com a Madeira. Nem nenhum Continente disposto a jamais lhe cobrar as dívidas.
Ou seja, se os métodos políticos de Jardim não fazem qualquer sentido, ainda menos fazem os seus métodos de administração pública. E isso adensa o mistério da importância que Santana lhe dá. Até porque todos os portugueses conhecem bem este ditado: «Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és».
11 Fevereiro 2005 - A Opinião de Henrique Monteiro - Expresso
(As fotos são de iniciativa do blog)