SABIA QUE...?

Junho 02 2005
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A rotunda vitória do não francês ao referendo sobre o tratado da Constituição Europeia é explicado pelas más razões, mas isso não altera o essencial: a Europa vai ter de repensar profundamente o seu caminho para a união política e interrogar-se sobre se o melhor não será digerir calmamente o alargamento a 10 novos Estados membros, antes de se lançar em novas aventuras.


A taxa de desemprego de 10% está certamente na origem de grande parte do voto de protesto dos franceses - o que não deixa de ser irónico, porque os gauleses, sobretudo os seus agricultores, têm sido os mais beneficiados por uma política agrícola europeia anacrónica, injusta e desigual.


O voto de protesto dos franceses está também associado ao medo que a globalização provoca - e muito especialmente à entrada em força da China no mercado mundial, quer do lado da oferta de têxteis, quer do lado do aprovisionamento em larga escala das matérias-primas, o que está a fazer subir o seu preço em flecha.


Mas quaisquer que sejam as razões, o voto dos franceses - a que se deve seguir o voto negativo dos holandeses na quarta-feira - deixa claro que a Constituição Europeia está morta e enterrada.


Noutras ocasiões, em que outros países votaram negativamente alguns tratados europeus, a estratégia foi sempre a mesma por parte dos líderes europeus: desvalorizar o resultado e fazer um segundo referendo, que deu o resultado pretendido. Mas isso passou-se com pequenos países como a Irlanda ou Dinamarca. Agora, quem está em causa é a França, um dos dois motores da construção europeia, a par da Alemanha. Não é, pois, possível esperar que o mesmo aconteça em França, onde Jacques Chirac não tem qualquer margem de manobra para o fazer - e vai mesmo sacrificar o actual primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin.


A questão essencial é que a França é o mais conservador dos países europeus. Os franceses não estão dispostos a perder nenhum dos seus privilégios. E num mundo em mudança, não é possível evitar que tal aconteça - mesmo que lhes passe pela cabeça que, se evitarem a mudança na Europa, travam a mudança mundial.


Quanto à Europa, os líderes europeus têm definitivamente de entender que não é possível construí-la nas costas e contra a vontade dos seus cidadãos. Talvez esta pausa que o não francês agora impõe seja um bom momento de reflexão - que dê origem, dentro de alguns anos, a um novo e decisivo impulso na construção europeia.



A Opinião de Nicolau Santos in Expresso


30 Maio 2005


*

A COLIGAÇÃO DESTRUTIVA


O voto «Não» no referendo francês, apesar de uma manifestação clara da vontade da maioria em não ratificar o Tratado Constitucional da Europa, não deixa de ser o resultado de uma coligação negativa. Entre os argumentos de trotsquistas e os de Le Pen; entre o que dizem os comunistas e o que apregoa Laurent Fabius não há qualquer semelhança, salvo que todos confluíram nesse rotundo «Não».


Porém, dos milhões que votaram «Não» apenas alguns, em meu entender, se podem considerar vencedores: Le Pen e a sua Front National. Na verdade, só a extrema-direita francesa tem consistência e solidez na sua argumentação anti-europeia. Porque é uma argumentação racista, chauvinista e totalitária, que recusa a entrada de outros países, a imigração, os direitos iguais para povos diferentes e o pluralismo étnico e religioso.


Os outros - aqueles que votaram «Não» por aspectos que se prendem com mais ou menos mercado, mais ou menos liberalismo, mais ou menos representação - podendo ter razão em inúmeros aspectos, acabaram por prestar um inestimável serviço aos anti-europeístas da extrema-direita. Ao contrário da segunda volta das presidenciais francesas, em que todos se uniram contra Le Pen, desta vez a extrema-esquerda e uma parte substancial (talvez metade) do eleitorado socialista aliou-se a Le Pen. Claro que os argumentos são diferentes, mesmo radicalmente opostos, mas o certo é que todas as ideias e actos têm consequências. E teme-se que uma das consequências deste referendo possa ter sido trazer o discurso chauvinista e racista de Le Pen para a área da respeitabilidade. Afinal, a maioria dos franceses votou a seu lado.


O referendo em França foi ganho, na verdade, por uma coligação destrutiva. Que nada tem a oferecer em comum, salvo uma rejeição.


A Opinião de Henrique Monteiro in Expresso



31 Maio 2005



publicado por Lumife às 03:50

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