SABIA QUE...?

Maio 14 2009

 

 

 

 

 

 

 

Entrevista a Artur Teles de Araújo

«É necessário alertar para o facto de que a tuberculose ainda existe», alerta Artur Teles de Araújo, Presidente da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias

O número de casos de tuberculose tem vindo a diminuir, progressivamente, em Portugal. Os estudos epidemiológicos revelam mesmo que o risco de infecção reduziu para metade nos últimos 13 anos. Contudo, o presidente da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias, Artur Teles de Araújo, alerta que é necessário que as populações estejam informadas para o facto de que a doença ainda existe – está até longe de ser erradicada. Por isso, em entrevista ao SAPO SAÚDE, o pneumologista esclarece algumas dúvidas, opinando também sobre o que se tem feito – ou que é desejável que se faça – para combater a tuberculose.

Apesar da diminuição de número de casos, Portugal continua a ser dos países da União Europeia com maior taxa de incidência de tuberculose...
Realmente, o número de casos de tuberculose tem vindo a diminuir no nosso país, de forma consistente, nos últimos anos. Por exemplo, no ano passado, Portugal registou 2916 casos, ou seja, uma descida de sete por cento em relação a 2007 (quando foram diagnosticados 3158 casos). Ou seja, os números têm descido progressivamente, mas são ainda elevados em relação a outros países da União Europeia, cuja média se situa nos 17 casos por cada 100 mil habitantes. Portugal regista cerca de 26 casos por cada 100 mil habitantes.

A que razões se podem dever esses números?
Os números devem-se a vários factores: um deles é porque a taxa de infecção em Portugal há uns anos era muito elevada, e, portanto, a descida é sempre relativamente lenta nesta fase. Por outro lado, a alta prevalência de casos de VIH/ Sida no país provavelmente também contribui para estes números. A co-infecção por VIH/ Sida e tuberculose é uma situação explosiva, e uma doença potencia a outra. E depois, há uma distribuição heterogénea dos casos de tuberculose no país. É nas zonas com maior concentração de populações, e, logo, de maior concentração de toxicodependência e de infecção por VIH/ Sida – como Lisboa, Porto, Setúbal e Faro –, que existem os valores mais elevados. Outros factores de risco têm a ver com más condições socioeconómicas, de habitação. Mas estes são factores em que é possível intervir.

O que se está a fazer, a nível governamental, para contrariar esses valores?
Existe o Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose, com uma cobertura razoável e resultados positivos: os estudos epidemiológicos revelam que o risco de ser infectado por tuberculose reduziu para metade nos últimos 13 anos. Por outro lado, os medicamentos são gratuitos, e a taxa de mortalidade por tuberculose desceu para metade na última década. Em Portugal, a detecção dos casos ronda os 90 por cento, e o sucesso terapêutico, ao fim de um ano, os 87 por cento. Portanto, alguma coisa está a ser feita. O que é necessário é que as populações estejam alertadas para o facto de que a doença ainda existe. É preciso estar alertado, embora não assustado.

 

Quais são os sintomas da tuberculose?
O sintoma mais predominante é haver uma tosse arrastada, com expectoração, que não cede às medicações habituais, e que se prolonga por umas semanas. Se a tosse não desaparece com a terapêutica e se não há uma razão clínica para isso, então há uma possibilidade de ser tuberculose. A pessoa deve ser observada pelo médico, que confirmará ou infirmará o diagnóstico.

Basicamente, o diagnóstico da tuberculose pulmonar – que é contagiosa e a mais frequente (pode haver outros tipos, mas são normalmente secundários) passa por fazer uma radiografia e análise de expectoração, para encontrar a bactéria – que é o que dá um diagnóstico absoluto. A radiografia do tórax, por si, dá indicações bastante seguras de que podemos estar em presença de um caso de tuberculose, que deverá ser, em todo o caso, confirmado pelo exame bacteriológico. É necessário um diagnóstico precoce, antes que a doença possa contagiar outras pessoas.

Todos os doentes com tuberculose podem transmitir a doença?
A maioria poderá. Na fase em que a tuberculose não foi diagnosticada e o doente tosse e expele expectoração, é possível o contágio. Contudo, se iniciou um tratamento, passado pouco tempo, a bactéria já não tem condições de se desenvolver noutras pessoas – ainda que o doente não esteja curado. Portanto, o perigo de contágio desaparece.



Por outro lado: todas as pessoas que entram em contacto com a bactéria podem ser contagiadas?
A maioria da população portuguesa está protegida pela vacina de BCG [sigla de bacilo Calmette-Guerin], que, embora longe de dar uma protecção absoluta, tem alguma eficácia. Mas, esteja vacinada ou não, a maioria das pessoas que entra em contacto com a bactéria, consegue, pelas suas defesas deter a agressão da bactéria, confiná-la e evitar que ela se desenvolva. Em algumas situações – ou porque a bactéria é mais virulenta, ou porque as pessoas estão um pouco mais debilitadas, ou por condições locais – a bactéria consegue então desenvolver-se. Mas o número dessas situações é relativamente baixo, comparativamente com o total de pessoas que são expostas à bactéria.

Disse que a vacina de BCG, que está integrada no Plano Nacional de Vacinação há umas décadas, não dá uma protecção absoluta. Qual a sua taxa de eficácia?
A vacina, de facto, não é cem por cento eficaz. Foi descoberta há mais de 80 anos, e a sua taxa de eficácia ronda os 60 por cento. Sobretudo, protege das formas mais graves, como, por exemplo, das meningites por tuberculose...

Na sua opinião, qual é o estado actual da investigação científica para o combate à tuberculose?
A investigação científica tem de desenvolver novas vacinas, mais eficazes, e novos medicamentos. Os fármacos para combater ou curar a tuberculose são eficazes, na maioria esmagadora dos casos, mas são muito antigos; o último a entrar na prática clínica, a rifampicina, fê-lo em 1967. Portanto, as bactérias também começam a criar resistência.

Outro problema no tratamento da tuberculose é que tem uma grande duração – seis meses, no mínimo – e é necessário associar três ou quatro antibióticos. Ora, isso faz com que haja uma tendência para que as pessoas abandonem o tratamento. Portanto, é preciso encontrar novos fármacos que sejam eficazes e que eventualmente permitam reduzir o tempo de tratamento. São essas as linhas de investigação que se começam a desenhar. Houve um certo abandono da investigação para o combate à tuberculose, mas, actualmente, está a ser retomada.

Considera que se tem esquecido o combate à tuberculose?
Sem dúvida que, a partir da década de 70 do ano passado, se pensou que havia medicamentos eficazes, e que a doença a prazo iria extinguir-se. Talvez por isso, houve uma desarticulação, um abandono do combate à doença em todo o mundo. E a tuberculose não se extinguiu; pelo contrário, começa a ter formas resistentes que vêm complicar mais o problema. Está longe de estar extinta, e é preciso que uma organização combata a doença em todos os países – não estamos só a falar de Portugal – e que haja uma investigação no sentido de encontrar novos fármacos mais eficazes e baratos, que permitam tratamentos mais curtos, e também uma vacina mais eficaz do que a actualmente existente, que permita proteger cabalmente as populações a nível mundial.

Como avalia o trabalho desenvolvido neste sentido, a nível internacional?
O Dr. Jorge Sampaio [Enviado Especial das Nações Unidas para a Luta contra a Tuberculose] tem tido um papel assinalável no combate à doença. Tem tentado acordar os governos e o mundo para a necessidade não só de investigação como também de fazer chegar os medicamentos e as armas existentes a toda a população mundial. A tuberculose nos países em vias de desenvolvimento é um problema gravíssimo – 98 por cento dos cerca de dois milhões de mortes por essa doença ocorrem nesses países. Mas é um problema que se pode estender – e estende-se – aos países desenvolvidos, porque as comunicações são mais fáceis. Trata-se, por isso, de um problema global, e deve ser encarado desse modo. Os países desenvolvidos têm de pensar que têm que ajudar os países menos desenvolvidos na luta contra a tuberculose. Alguma coisa tem sido feita, mas penso é que é preciso fazer mais, seguramente.

É mesmo possível erradicar a doença?
Há várias doenças (não só bacterianas, mas virais, também), como a poliomielite ou a varíola, que foram erradicadas. Se nós encontrarmos uma vacina que seja 100 por cento eficaz é possível que a doença venha a ser erradicada. Mas vai demorar umas dezenas de anos, com certeza.

Texto: Ana João Fernandes

publicado por Lumife às 17:57

Maio 12 2009

 

 

 

 

O sono comanda a vida

Ocupamos um terço da nossa vida a dormir e a falta de sono pode ter consequências graves. Eis as razões para a insónia e a forma como ela pode ser combatida.

Dizem os especialistas que dormir é tão vital quanto saciar a sede. Não é por acaso que passamos mais de um terço das nossas vidas a usufruir do merecido descanso. Mas, se é um dos milhares de portugueses que passam as noites em branco, não feche os olhos a alguns dos conselhos que se seguem. Em vez de contar carneirinhos a noite toda, apresentamos algumas soluções para voltar a fazer as pazes com a sua almofada.

Estarão os portugueses a dormir mal? Para João Carlos Winck, responsável pela consulta de Patologia do Sono do Serviço de Pneumologia do Hospital de S. João, no Porto, a resposta é claramente positiva: os cidadãos lusos «têm uma grande dívida de sono». «Cada vez se dorme menos e as consequências não tardam a aparecer», reforça o especialista, acrescentando que há uma relação de causalidade entre a privação de sono e a ocorrência de algumas doenças, nomeadamente a obesidade, complicações cardiovasculares e a redução do rendimento escolar.

Quando se encurta a duração total do sono, é como se houvesse uma quebra na corrente, isto porque existem diferentes estádios que «têm de ser respeitados». As experiências realizadas com ratos, em privação do sono, demonstraram que esta inibição foi fatal nestes animais. Quer isto dizer que «o sono», como uma constante da vida, «é fundamental à sobrevivência».

Para ilustrar a importância do repouso, o especialista aponta o famoso desastre do Space Shuttle Challenger. «Os astronautas viram a descolagem excessivamente adiada, durante dois a três dias, por motivos de ordem técnica. Em virtude destes atrasos, a tripulação dormiu pouco e, quando foi necessário actuar, como apresentava um défice reflexos, a nave explodiu. Há muitos depoimentos na História da Humanidade que se prendem com problemas relacionados com o sono».

 

O mal é sono

Em Portugal um terço da população dá ou já deu em alguma altura da vida voltas na cama devido às insónias. «Trata-se de uma situação que interfere com a saúde das pessoas e com o próprio rendimento pessoal e profissional», refere António Atalaia, membro da Direcção da Associação Portuguesa de Sono (APS).

Uma das principais causas de insónia apontadas pelo neurofisiologista é o stresse. «Um dia-a-dia mais acelerado contribui, sobremaneira, para uma pior higiene do sono.» Para resolver o problema das insónias, pode-se recorrer à toma de hipnóticos. Mas, como adianta António Atalaia, estes medicamentos, quando tomados a longo prazo e sem supervisão médica, «podem ser motivo do agravamento da insónia e não de tratamento».

Para João Carlos Winck, há uma tendência para alguns doentes se automedicarem. Esta situação gera, na perspectiva do especialista, «uma situação de dependência». Antes de se administrarem os fármacos, é preciso, antes de mais, compreender «as razões se escondem por detrás de um mau sono».

 Acertar os ponteiros

Uma das estratégias para resolver as insónias, pode ser a terapia comportamental. Este método visa restaurar as associações positivas ligadas ao sono e facilitar a harmonização deste com o «relógio biológico», ou seja, acertando os ponteiros dos ritmos circadiários (noite e dia). E para os que pensam que o sono pode ser compensado com horas de sono extra ao fim-de-semana: desenganem-se. Nem sempre é possível «indemnizarmo-nos» pelas «alterações e défices registados anteriormente». E, com o desenrolar da idade», essa possibilidade vai decrescendo.

«Se, por motivos de trabalho ou diversão, tentarmos dormir no período diurno a seguir a uma noitada, não temos a mesma profundidade e arquitectura de sono que teríamos se tivéssemos dormido durante a noite. Sabe-se, por experiência própria, que o sono fora de horas não tem o mesmo valor. É, por isso, importante ter horários e condições certas para dormir», acrescenta António Atalaia.

Embora, em média, um adulto precise de dormir cerca de sete a oito horas, «há que respeitar as necessidades individuais». O importante é sentirmo-nos descansados ao acordar, respeitando os ritmos regulares: deitar e levantar a horas certas, todos os dias. «Ao alterarmos repetidamente os horários de sono, os ciclos biológicos ficam, gradualmente, desajustados, criando, assim, dificuldades em adormecer».

 

 

O sono não é todo igual

O sono divide-se em duas fases: um ciclo mais superficial e outro mais profundo. «Desde que se adormece até que se acorda, vai-se passando por uma série de degraus. Estas fases, que se sucedem durante a noite, obedecem uma ordem hierárquica», fundamenta João Carlos Winck. Quer isto dizer que, em cada estádio de repouso, as funções vitais vão-se modificando.

É na fase do sono profundo que se carregam as energias para o dia seguinte. Mas não só. «Sabe-se, por exemplo, que a hormona de crescimento e outros elementos biológicos são segregados pelo organismo durante esta fase de sono». Para se manter um sono totalmente reparador, «é fundamental cumprir todas as etapas e, se possível, acordar imediatamente a seguir ao sono REM. Esta sigla do inglês, que significa "rapid eyes movement", é o último patamar do repouso.

 

Glossário do sono

«A variedade dos distúrbios do sono é enorme e interferem com outras patologias», adianta António Atalaia. O neurofisiologista define alguns dos males que afectam o sono.

- Bruxismo: é uma designação para quem range os dentes durante o sono;

- Roncopatia e síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS): são patologias de foro respiratório que afectam mais os homens do que as mulheres, pelo menos até à menopausa. A primeira é comummente conhecida por ressonar. Já a SAOS está relacionada com as paragens respiratórias durante o acto de dormir. Está demonstrado que as apneias do sono são uma das causas de hipertensão arterial secundária, podem provocar arritmias cardíacas e, ao provocarem sonolência diurna excessiva, estão na origem de acidentes de viação e de trabalho;

- Narcolepsia esta patologia rara caracteriza-se por uma tendência anormal para adormecer durante o dia nas situações mais impróprias. Tem um conjunto de sintomas acompanhantes: paralisia durante o sono, perda súbita do tono muscular em resposta a determinadas emoções e alucinações ao adormecer;

- Parassónias: englobam o sonambulismo e outros distúrbios do sono, que se manifestam por comportamentos de agitação, deambulação ou mesmo agressão, os quais ocorrem sem que o doente desperte.

 

Tratamento

Embora não haja cura para algumas das patologias que interferem com a qualidade do sono, saiba os tratamentos que estão à disposição de quem sofre por não conseguir dormir. «A síndrome da apneia obstrutiva do sono tem tratamento eficaz, mas só alguns dos doentes é que podem ser curados. É preciso ser realista e prudente quando se fala nas perspectivas terapêuticas deste grupo», diz António Atalaia.

«As insónias podem ser resolvidas, não só com medicamentos, mas com a modificação de alguns comportamentos ou pelo tratamento das doenças que estão na origem da insónia, sejam elas de foro psiquiátrico, cardiológico, endócrino ou outro», prossegue. Já nas parassónias e no bruxismo, a administração de fármacos «consegue resolver o problema». Em situações de bruxismo, «pode-se, ainda, recorrer a aparelhos protésicos de protecção dentária».

No fundo, para o especialista, praticamente todas as perturbações do sono têm tratamento, embora nem todos os casos sejas passíveis de cura. Isto deve-se, fundamentalmente aos avanços registados na Medicina do Sono. «O desenvolvimento de novas moléculas e a compreensão destas doenças são grandes pilares do tratamento».

 

Medidas para uma boa higiene do sono

Para nunca ficar a contar carneirinhos a noite toda, João Carlos Winck, deixa alguns conselhos para ter um sono reparador. Estas medidas, segundo o especialista, são universais, mesmo para quem não tem dificuldades em dormir.

- Nunca tomar café ao lanche; a cafeína é um estimulante que prejudica o sono; - Fumar duas horas antes de ir para a cama prejudica o adormecer;

- Nunca ir para a cama nas três horas imediatamente depois da refeição;

- Deitar e levantar nas mesmas horas, tentando que este período não sofra grandes variações;

- Desligar a televisão quando nos deitamos. «O estímulo da televisão vai prejudicar o relaxamento», completa João Carlos Winck, adiantando que se trata de uma tendência contrária ao acto de adormecer.

Para mais informações...

A APS acaba de lançar em
www.apsono.com o novo site da Associação. Neste site, é disponibilizado um teste de sono online para a população em geral e informações relativas à importância do sono.

AP


publicado por Lumife às 19:22

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