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Santana Lopes vai continuar a usar o poder, para deixar em aberto todos os cenários até 2006
Após o rescaldo das eleições regionais, em que o PS e o PSD renovaram as maiorias, respectivamente, nos Açores e na Madeira, todas as atenções regressam ao actual paradoxo da vida política portuguesa: o clima de braço-de-ferro entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro.
Goste-se ou não se goste, Santana Lopes enviou um recado cristalino a Jorge Sampaio: ou o deixa governar, para ser julgado em Outubro de 2006, como prometeu o Presidente, quando invocou a estabilidade para o indigitar como chefe do Governo, ou então está disponível para assumir a ruptura.
Ao primeiro sinal de ataque, o chefe do Governo falou ao país para deixar claro quem manda e quem marca a agenda política, deu o dito por não dito e avançou com uma proposta de Orçamento de Estado surpreendente.
Apesar de ninguém acreditar nas contas do Orçamento, de 2005, o Presidente foi obrigado a recuar.
De facto, hoje, ninguém duvida que o responsável pelo estado de permanente derrapagem presidencial se chama Santana Lopes, tal é o desfasamento entre o que o Jorge Sampaio diz e o que o Presidente da República faz.
O estilo de Santana Lopes até pode ser considerado uma fórmula execrável, como revelou o caso de Marcelo Rebelo de Sousa. O exemplo de governação trauliteira de Alberto João Jardim, que reforçou o estatuto de campeão eleitoral, aparentemente, continua a ser um maná para o líder da maioria.
Faça o que fizer, diga o que disser, com mais ou menos ameaças, veladas ou expressas, o balanço do mandato presidencial está amarrado ao sucesso das promessas orcamen-
tais.
Daqui a um ano, o Presidente da República não se pode escudar na evolução do preço do petróleo, para justificar a situação do país.
Jorge Sampaio tem de perceber que o tempo não volta para trás.
O balanço do mandato presidencial está amarrado ao sucesso das promessas orçamentais
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Rui Costa Pinto é Grande Repórter da VISÃO
(Transcrito com a devida vénia da VISÃO)